Bioquímica - Lipídios

6 - Lipídios

Ao contrário da maioria dos compostos orgânicos, os lipídios, lipídeos ou lípides são insolúveis em água. Por outro lado, são solúveis em solventes orgânicos, como álcool, éter, clorofórmio, etc.

Podem ser subdivididos em: lipídios simples, lipídios complexos, esterídeos e carotenoides.

Lipídios simples

Compostos resultantes da associação de ácidos graxos com álcoois. Do ponto de vista químico, os compostos resultantes da associação de ácidos orgânicos com álcoois são classificados como ésteres. Assim, pode-se dizer que os lipídios simples são ésteres que resultam da associação de ácidos graxos (que são ácidos orgânicos) com álcoois.

Os ácidos orgânicos que participam da formação dos lipídios simples são chamados genericamente de ácidos graxos.

Esses ácidos têm moléculas constituídas por longas cadeias abertas de átomos de carbono ligados a hidrogênios e têm, em uma de suas extremidades, o grupamento ácido carboxila (COOH). Podem ser saturados ou insaturados, conforme a cadeia carbônica seja saturada ou insaturada. Veja exemplos a seguir:

Os ácidos graxos podem ser naturais (produzidos no próprio organismo) e essenciais (obtidos pela dieta). Entre os essenciais, há um grupo de ácidos graxos conhecidos por ômegas (ômega 3, ômega 6), que ajudam a diminuir os níveis do mau colesterol (LDL) e a aumentar os do bom colesterol (HDL). Óleos vegetais (linhaça, canola, girassol) e peixes de água fria (atum, sardinha, salmão) são exemplos de alimentos ricos nesses ácidos graxos.

Os lipídios simples estão distribuídos em dois grupos: glicerídeos e cerídeos.

A) Glicerídeos (glicerídios, glicérides) – Resultam da associação de ácidos graxos com o álcool glicerol (glicerina).

Os monoglicérides resultam da união de uma molécula de ácido graxo com uma de glicerol; os diglicérides são resultantes da união de duas moléculas de ácidos graxos com uma de glicerol; os triglicérides vêm da união de três moléculas de ácidos graxos com uma de glicerol. É bom ressaltar que, toda vez que uma molécula de ácido graxo se liga ao glicerol, há a formação de uma molécula de água. O esquema a seguir mostra a formação de um triglicéride. Glicerídeos saturados (sem duplas ligações na cadeia carbônica) são sólidos à temperatura ambiente e constituem as gorduras (banha de porco, gordura de coco, etc.). Já os glicerídeos insaturados são líquidos e constituem os óleos (de soja, de amendoim, de milho, de fígado de bacalhau, etc.).

Os óleos e as gorduras, muito utilizados em nossa alimentação, são importantes porque atuam como material de reserva energética e são a segunda fonte de energia para o organismo (lembre-se de que, em condições normais, a primeira fonte de energia são os carboidratos). Os óleos são armazenados em muitas sementes, frutos e fígado de alguns animais.

As gorduras são reservas energéticas, principalmente dos animais. Em muitos animais, inclusive no homem, existem células, denominadas adipócitos, especializadas em armazenar gordura. Tais células são encontradas em maior quantidade no tecido adiposo da tela subcutânea (hipoderme), localizada logo abaixo da derme. As gorduras aí armazenadas, além de constituírem uma importante reserva energética, exercem outras funções, como proteção mecânica para os órgãos internos, especialmente os ossos, uma vez que funcionam como amortecedores dos impactos ou choques mecânicos. Outra função também desempenhada por essas gorduras é a de isolante térmico. Por serem maus condutores de calor, os lipídios impedem a perda excessiva de calor através da pele e, assim, ajudam na manutenção da temperatura corporal. É bom lembrar, entretanto, que o excesso de triglicérides (gordura) na nossa corrente sanguínea é prejudicial ao organismo, uma vez que aumenta a probabilidade de formação de ateromas (placas de gordura nas paredes das artérias) e, consequentemente, o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares. Quando em altas taxas na corrente sanguínea, os triglicérides depositam-se sobre as paredes das artérias que, então, tornam-se mais estreitas, dificultando a passagem do sangue, podendo causar hipertensão (aumento da pressão arterial) e aumentar a probabilidade de ocorrência de doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio.

B) Cerídeos (cérides) – São lipídios simples que resultam da associação de ácidos graxos com álcool de cadeia aberta diferente do glicerol, como o álcool cetílico (C16H33OH). O álcool que participa da formação dos cerídeos sempre possui uma cadeia carbônica maior do que a do glicerol, ou seja, são álcoois de cadeias longas.

Os cerídeos estão representados pelas ceras de origem animal e vegetal e têm importante papel na proteção e na impermeabilização de superfícies sujeitas à desidratação. Em muitas espécies de vegetais, como na carnaubeira, há uma camada de cera sobre a epiderme das folhas que impede a perda excessiva de água através da transpiração foliar. As ceras também servem como matéria-prima para a construção das moradias dos animais que as fabricam. É o caso, por exemplo, das colmeias das abelhas, cuja base da construção das celas (compartimentos internos) são as ceras. O cerúmen produzido pelos nossos ouvidos, que tem função protetora contra a entrada de corpos estranhos, também pertence ao grupo dos cerídeos.

Lipídios complexos (compostos)

São formados pela associação de ácidos graxos, álcool e um outro composto de natureza química diferente. Assim, enquanto nas moléculas dos lipídios simples só existem átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, nos lipídios complexos, além desses três elementos químicos, encontramos outros, como o nitrogênio ou o fósforo. Um bom exemplo de lipídios complexos são os fosfolipídios (também chamados de fosfatídeos), que resultam da associação de ácidos graxos, álcool e radicais fosfatos (PO43- ).

Os fosfolipídios são encontrados na estrutura da membrana plasmática das células. Esterídeos (esteroides)Têm uma estrutura bastante diferente dos lipídios simples e complexos, uma vez que apresentam em suas moléculas o núcleo ciclopentanoperidrofenantreno.

No grupo dos esteroides, encontramos o colesterol e seus derivados.

O colesterol é uma substância útil ao organismo, sendo, inclusive, produzido pelo nosso fígado (colesterol endógeno) e utilizado na produção dos sais biliares. Entretanto, quando presente em altas taxas, pode trazer más consequências. Uma delas é a sua deposição nas paredes dos vasos sanguíneos, que, então, tornam-se mais estreitos, dificultando a passagem do sangue, provocando a hipertensão (pressão alta) e, consequentemente, o aumento da probabilidade de ocorrência de doenças cardiovasculares, como a trombose e o enfarte.

Molécula de colesterol - O colesterol entra na constituição das membranas biológicas, além de ser precursor na produção de hormônios sexuais (testosterona - estrogênio - progesterona) e corticoides.

No sangue, o colesterol associa-se a outros lipídios e proteínas, formando glóbulos ou corpúsculos de lipoproteínas conhecidos por HDL (High-Density Lipoproteins) e LDL (Low-Density Lipoproteins). Tais corpúsculos têm diferentes tamanhos e densidades. HDL (lipoproteínas de alta densidade) tem cerca de 20% de colesterol, enquanto LDL (lipoproteínas de baixa densidade) tem cerca de 45% de colesterol. Além de ter um menor percentual de colesterol em sua constituição, o HDL ajuda a transportar outros tipos de lipídios para o fígado, onde tais compostos são metabolizados, diminuindo, assim, a taxa de lipídios na corrente sanguínea, inclusive a do LDL. Por isso, costuma-se também chamar o HDL de “bom colesterol”, enquanto o LDL é conhecido como o “mau colesterol”.

Assim, uma alta concentração de HDL e uma baixa concentração de LDL significam menores riscos de doenças cardiovasculares, enquanto uma alta concentração de LDL e uma baixa de HDL constituem riscos maiores de ocorrência dessas doenças.

Os níveis mais ou menos elevados de colesterol no sangue dependem de vários fatores e não apenas da alimentação com maior ou menor taxa desse lipídio. Fatores metabólicos individuais e mesmo genéticos também interferem na taxa dessa substância no organismo. A alta taxa de colesterol, associada ao sedentarismo, ao estresse e ao tabagismo, aumenta ainda mais a probabilidade de ocorrência de doenças cardiovasculares. Exames clínicos periódicos são muito importantes para as pessoas, principalmente para aquelas que têm maior tendência a possuir taxas mais elevadas de colesterol e triglicérides no sangue. Indivíduos que apresentam taxas de colesterol e triglicérides acima do considerado normal devem procurar fazer uso de uma dieta pobre em lipídios e praticar exercícios físicos regulares, com a devida orientação médica, para ajudar a diminuir a taxa dessas substâncias na corrente sanguínea e, consequentemente, diminuir os riscos de doenças cardiovasculares.

Carotenoides

São lipídios pigmentados (coloridos), vermelhos ou amarelos, de consistência oleosa. Estão presentes nas células vegetais, onde têm papel importante no processo da fotossíntese. São também importantes para muitos animais. Um bom exemplo é o caroteno, carotenoide amarelo-alaranjado abundante na cenoura, que, quando ingerido por animais, converte-se em vitamina A na mucosa intestinal e no fígado. A vitamina A tem várias funções biológicas. Uma delas é participar da formação da rodopsina, um pigmento que aumenta a sensibilidade da retina à luz, permitindo uma melhor visão em ambientes pouco iluminados.

Referências:

  • JUNQUEIRA, Luis C. & CARNEIRO, J. "Biologia Celular e Molecular". Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1991. 5ª Edição. Cap. 1.

  • OLIVEIRA, Óscar; RIBEIRO, Elsa & SILVA, João Carlos "Desafios Biologia". Editora ASA, Porto, 2007. 2ª Edição. Cap.1.

  • AMABIS, JOSÉ MARIANO; MARTHO, GILBERTO RODRIGUES. Volume 1: Biologia das células – 3. Ed. – São Paulo: Moderna, 2010.

  • NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger: Princípios de Bioquímica. 3ª ed., Sarvier, 2003